domingo, 13 de janeiro de 2013

Avozinha diz-me tu…


O ano começou com a vinda da avó da Carolina à nossa sala, e ela contou-nos que…
“ Já lá vão muitos anos que um jovem minhoto, órfão de mãe, resolveu deixar a sua terra natal e partir à procura de alguém que o amparasse. Foi assim que o destino o levou até terras de Arouca, onde, por sorte, encontrou uma família que para além de lhe dar trabalho também o acolheu, dando o carinho que tanto necessitava. Tornou-se um bom padeiro, trabalhador, honesto e respeitado.
Mais tarde encontrou uma jovem por quem se apaixonou. Casaram-se e desse casamento nasceram três filhos. Um desses filhos sou eu, a mais velha. Fui crescendo rodeada de muito carinho dos meus pais e de uma avó (materna) que muito adorei.
Naquele tempo a vida também era muito difícil! Os pais trabalhavam arduamente, porque queriam que nada nos faltasse e o seu maior desejo era que tivéssemos uma vida melhor que a sua, sem sermos sujeitos a tantos sacrifícios. Lembro-me que tanto eu como os meus irmãos éramos obrigados a trabalhar na padaria. Era necessário que todos trabalhassem.
Gostava muito dos campos, das flores, dos animais e, era no meio de umas tantas ovelhas e uma cabrinha (que tem uma linda história)  que preparava as minhas aulas.
Não tínhamos muitos brinquedos (alguns feitos por nós com a ajuda da avó), pouca roupa, não se falava em televisão e muito menos em computadores. Chocolates, rebuçados, pastéis....isso nem sabíamos que existiam. No entanto era feliz. Tudo era pretexto para festa (os anos, a matança do porco, a ida ao monte buscar lenha com carros de bois, as travessuras saudáveis que fazíamos uns aos outros,etc) não esquecendo as épocas festivas nas quais toda a família se reunia. Havia convívio, conversava-se muito uns com os outros, éramos amigos (hoje ainda conservo grandes amigos).
Continuei a estudar até ser professora. Ensinei e ajudei muitos meninos. Foram 34 anos. Nesta fase, também nada era fácil. Fui colocada longe de casa, tendo de atravessar serras e serras, sem transporte. Ia na camioneta que recolhia o leite pelas serranias, com dois homens (o condutor e o ajudante) que hoje ao recorda-los reconheço que eram pessoas fantásticas e simpáticas. Tinha uns 20 anos.
Passado algum tempo casei com aquele rapaz com quem namorava há anos. Engravidei de um menino que perdi aos 5 meses de gestação, devido a uma infeção renal (nasci com três rins e três uréteres), anomalia que me fez sofrer bastante.
Depois nasceram duas meninas saudáveis sendo uma delas a Carla, mãe da Carolina. Fiz por elas o melhor que pude e soube, procurando incutir-lhes valores humanos e saberes para que fossem felizes, trabalhadoras e úteis à sociedade.
Hoje, com 66 anos, a minha maior preocupação são as minhas três netas. Vivo muito para elas, procurando ajuda-las a crescer e protege-las desta sociedade tão vazia de afetos.”


No final, avó e neta ofereceram a cada um, uma regueifa de canela e um boião com doce de abóbora e nozes (feito pela avozinha). Estava delicioso! Muito obrigada vovó Maria Rosa pela sua visita.


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