O ano começou com a vinda da avó da
Carolina à nossa sala, e ela contou-nos que…
“ Já lá vão muitos anos que um
jovem minhoto, órfão de mãe, resolveu deixar a sua terra natal e partir à
procura de alguém que o amparasse. Foi assim que o destino o levou até
terras de Arouca, onde, por sorte, encontrou uma família que para além de lhe
dar trabalho também o acolheu, dando o carinho que tanto necessitava. Tornou-se
um bom padeiro, trabalhador, honesto e respeitado.
Mais tarde encontrou uma jovem por
quem se apaixonou. Casaram-se e desse casamento nasceram três filhos. Um desses
filhos sou eu, a mais velha. Fui crescendo rodeada de muito carinho dos meus
pais e de uma avó (materna) que muito adorei.
Naquele tempo a vida também era
muito difícil! Os pais trabalhavam arduamente, porque queriam que nada nos
faltasse e o seu maior desejo era que tivéssemos uma vida melhor que a sua, sem
sermos sujeitos a tantos sacrifícios. Lembro-me que tanto eu como os meus
irmãos éramos obrigados a trabalhar na padaria. Era necessário que todos
trabalhassem.
Gostava muito dos campos, das
flores, dos animais e, era no meio de umas tantas ovelhas e uma cabrinha (que
tem uma linda história) que preparava as minhas aulas.
Não tínhamos muitos brinquedos
(alguns feitos por nós com a ajuda da avó), pouca roupa, não se falava em televisão
e muito menos em computadores. Chocolates, rebuçados, pastéis....isso nem
sabíamos que existiam. No entanto era feliz. Tudo era pretexto para festa (os
anos, a matança do porco, a ida ao monte buscar lenha com carros de bois, as
travessuras saudáveis que fazíamos uns aos outros,etc) não esquecendo as épocas
festivas nas quais toda a família se reunia. Havia convívio, conversava-se
muito uns com os outros, éramos amigos (hoje ainda conservo grandes amigos).
Continuei a estudar até ser
professora. Ensinei e ajudei muitos meninos. Foram 34 anos. Nesta fase, também
nada era fácil. Fui colocada longe de casa, tendo de atravessar serras e
serras, sem transporte. Ia na camioneta que recolhia o leite pelas serranias,
com dois homens (o condutor e o ajudante) que hoje ao recorda-los reconheço que
eram pessoas fantásticas e simpáticas. Tinha uns 20 anos.
Passado algum tempo casei com aquele
rapaz com quem namorava há anos. Engravidei de um menino que perdi aos 5 meses
de gestação, devido a uma infeção renal (nasci com três rins e três uréteres),
anomalia que me fez sofrer bastante.
Depois nasceram duas meninas
saudáveis sendo uma delas a Carla, mãe da Carolina. Fiz por elas o melhor que
pude e soube, procurando incutir-lhes valores humanos e saberes para que fossem
felizes, trabalhadoras e úteis à sociedade.
Hoje, com 66 anos, a minha maior
preocupação são as minhas três netas. Vivo muito para elas, procurando
ajuda-las a crescer e protege-las desta sociedade tão vazia de afetos.”
No final, avó e neta ofereceram a
cada um, uma regueifa de canela e um boião com doce de abóbora e nozes (feito
pela avozinha). Estava delicioso! Muito obrigada vovó Maria Rosa pela sua visita.
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